Bem vindos à Serra do Sol
Quando participei da Transamazônica pela segunda vez, um dos trechos que fizemos foi a Serra do Sol, na fronteira com a Venezuela pertinho do Monte Roraima. Não sei se vocês já viveram isso, mas eu senti o tempo todo um medo bom. Se de um lado eu via o perigo nos acompanhando naquelas estradas sinistras, do outro a natureza me acalmava me fazendo contemplar tamanha beleza.
Percorremos cerca de 1.000 quilômetros entre Manaus e Santa Elena do Uiarén na Venezuela. Nesse trecho vivi uma intensidade de sentimentos, como a emoção de cruzar uma das principais reserva indígena do país- a reserva Waimiri. Esse povo indígena me encanta pela fartura de cultivos alimentares que possuem. As roças deles seguem padrões tradicionais de manejo ecológico de solo e da hileia amazônica. Além de variedade de espécies agrícolas e frutíferas cultivadas, eles desenvolvem a piscicultura com tambaqui, marinxã e curimatã. Essa diversidade para uma bióloga é um verdadeiro tesouro. Mas a minha caça ao tesouro estava apenas começando… a Serra do Sol me esperava lá na frente.
A primeira montanha a receber a luz do sol ao amanhecer, não poderia ter outro nome, né? Serra Do Sol! Com seus 2.150 de altitude, a montanha em forma de mesa, cercada por muita beleza, magia e lendas, é muito mais que um marco entre o limite do Brasil com a Venezuela e terras indígenas. Ela simboliza o passado, presente e futuro da nossa ancestralidade. Ela é parte da história de lutas e resistência dos povos indígenas. Com certeza essa foi uma das trilhas mais marcantes da minha vida.
A Luciana bióloga e a Lu Bacaicoa trilheira, andaram juntas o tempo inteiro, vivenciando as emoções desse lugar!
Essa Serra fica no limite de uma polêmica área indígena, situada no nordeste do Estado de Roraima entre os rios Tacutu, Surumu, Miang e a Fronteira com a Venezuela. Denominada Terra Indígena Raposa do Sol, homologada pelo Gov. Federal em 2005, ela é destinada apenas para a morada permanente dos povos indígenas Macuxi, Wapixanga, Ingaricó, Ptamona e Taurepang. Por isso essa trilha é feita pelo lado da Venezuela dentro do Parque Nacional de Canaima –sul da Venezuela. O acesso é pela Troncal 10, única rodovia que liga Santa Elena à outras cidades venezuelanas.
Marcada por um verdadeiro tobogã com muitos friozinhos na barriga, essa parte do percurso foi muito especial. Além das subidas e descidas vertiginosas, encaramos muitas travessias iradas por rios, riachos e igarapés. Mas para acalmar, ou não, animais silvestres nos observavam calmamente. Imagino até o pensamento deles nos olhando –rsrsrs. Mas todo medo parece ser tomado de uma sensação de plenitude ao montar um acampamento do ladinho de uma cachoeira com cerca de 30 metro de quedas d´águas, formando uma espécie de prainha nas margens do rio.
E foi assim, embalada pelo som das águas transparentes da Cahoeira Kimeru que eu e meu grupo dormimos e sonhamos com todas as belezas desse pedaço do céu na terra. Ah, como nem tudo é só sonho, os borrachudos e pernilongos também estiveram presentes nessa aventura! Mas os perrengues eu conto em outro texto, tá?
Para saber mais sobre as belezas desse lugar, indico a leitura desses artigos: Pinturas Rupestres e Lendas do Monte Roraima.
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